ALGUMAS ABORDAGENS DA ARTETERAPIA NO BRASIL
por Isabel Cristina Pires
O artes.LOCUS recebe mais uma vez Isabel Cristina Carvalho Pires, dando continuidade aos textos referentes a sua pesquisa apresentada como Monografia de conclusão do curso de Psicologia, intitulada “Arte como transformação: articulações entre o pensamento de Vygotsky, a psicologia e a arteterapia”, apresentada em dezembro de 2019.
Este conteúdo foi dividido em 4 partes (história da Arteterapia/as abordagens da Arteterapia/ as correlações entre arte, psicologia e arteterapia), tendo iniciado com "Breve História da Arteterapia"< breve-historia-da-arteterapia >.
No texto de hoje vamos conhecer algumas abordagens da Arteterapia no Brasil.
Isabel é jornalista, psicóloga e arteterapeuta com formação em Antiginástica ®Thérèse Berthera.
Boa leitura,
Flavia Hargreaves
Coordenadora do projeto artes.LOCUS
· CIORNAI, Selma (org.). Percursos em arteterapia: arteterapia gestáltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. São Paulo: Summus Editorial, 2004.Disponível em: <https://www.ubaatbrasil.com/> Acesso em: 02/09/2019.
· NAUMBURG, M. An introduction to art therapy: Studies of the “free” art expression of behavior problem children and adolescents as a means of diagnosis and therapy. New York, NY: Teachers College Press. (Original work published 1947), 1973.
· PHILIPPINI, A. Universo Junguiano e Arteterapia. Coleção de Revistas de Arteterapia Imagens da Transformação, Rio de Janeiro, volume II, n. 2, 1995. Pomar.
· REIS, A. (2014 a). A arte como dispositivo à recriação de si: uma prática em psicologia social baseada no fazer artístico. Barbaroi Revista do Departamento de Ciências Humanas, Santa Cruz do Sul, 2014, n.40, pp. 246-263. Disponível em: < https://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/view/3386> Acesso em: 08/10/2019.
· REIS, A. (2014 b). Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do psicólogo. Revista Psicologia Ciência e Profissão, 2014, Brasília, v. 34, no 1, pp. 142-157. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932014000100011> Acesso em: 05/09/19.
· RHYNE. J. Arte e gestalt: padrões que convergem (M. B. P. Norgren, trad.). São Paulo: Summus, 2000.
· ZANELLA, A. e MAHEIRIE, K., orgs. Diálogos em Psicologia Social e a Arte. 1 ed. Curitiba: Editora CRV, 2010.
O artes.LOCUS recebe mais uma vez Isabel Cristina Carvalho Pires, dando continuidade aos textos referentes a sua pesquisa apresentada como Monografia de conclusão do curso de Psicologia, intitulada “Arte como transformação: articulações entre o pensamento de Vygotsky, a psicologia e a arteterapia”, apresentada em dezembro de 2019.
Este conteúdo foi dividido em 4 partes (história da Arteterapia/as abordagens da Arteterapia/ as correlações entre arte, psicologia e arteterapia), tendo iniciado com "Breve História da Arteterapia"< breve-historia-da-arteterapia >.
No texto de hoje vamos conhecer algumas abordagens da Arteterapia no Brasil.
Isabel é jornalista, psicóloga e arteterapeuta com formação em Antiginástica ®Thérèse Berthera.
Boa leitura,
Flavia Hargreaves
Coordenadora do projeto artes.LOCUS
ALGUMAS ABORDAGENS DA ARTETERAPIA NO BRASIL
por Isabel Cristina Pires
Foto de HoliHo--5598375. Canva.
No meu texto anterior < breve-historia-da-arteterapia >, contei um pouco
sobre a história da arteterapia no mundo e no Brasil. Neste texto, vou falar
das principais abordagens psicológicas que embasam o trabalho do arteterapeuta
no Brasil hoje, ou seja, a junguiana, a psicanalítica e a gestáltica. Além
disso, mencionarei o trabalho arteterapêutico sob a abordagem
sócio-interacionista de Vygotsky, , psicólogo russo que desenvolveu seu trabalho no início do século XX.
A arteterapia junguiana se desenvolve a
partir da teoria de Carl Gustav Jung, criador da Psicologia Analítica. No
Brasil, começa com o trabalho de Nise da Silveira que encontrou, na teoria
junguiana, respostas para a melhor compreensão dos trabalhos artísticos de seus
pacientes.
Na abordagem junguiana, a atividade
artística tem a função de mediar a produção de símbolos advindos do
inconsciente e manifestos nas imagens produzidas pelo indivíduo. Para Jung, o
símbolo busca integrar o que é desconhecido – o inconsciente – e a consciência.
Segundo Philippini (1995, p. 2), o símbolo “aglutina e corporifica a energia
psíquica, para que o indivíduo possa entrar em contato com níveis mais
profundos e desconhecidos do seu próprio ser (...)”. Quando constelado através
dos materiais artísticos, o símbolo leva à estruturação e à transformação dos
estados emocionais que lhe originaram. Portanto, transformam a energia psíquica
e, por isso, são fundamentais na arteterapia, cabendo ao arteterapeuta oferecer
os meios adequados para viabilizar este processo. Em arteterapia, de acordo com
Philippini (1995, p. 3), o símbolo é a fusão da energia psíquica do indivíduo
com o material expressivo utilizado, o que resulta em formas, “criando e
recriando mundos, expressando dores e esperanças de vir a ser”. Assim, conforme
Reis (2014 a), os símbolos que surgem nas manifestações artísticas são mais do
que simples projeções de conteúdos do inconsciente, já que também são
responsáveis pela transformação qualitativa de tais conteúdos e atuam no
equilíbrio psíquico.
Deste modo, na arteterapia junguiana, o
arteterapeuta deve procurar oferecer ao paciente os recursos artísticos mais
adequados para que aspectos sombrios de sua psique possam ser iluminados e sua
energia psíquica possa fluir livremente. Além disso, Philippini (1995, p. 3)
aponta que o conteúdo simbólico criado durante o processo arteterapêutico
deverá ser amplificado: “A peculiaridade desta abordagem estará configurada nas
estratégias de amplificação do
material simbólico produzido nas sessões” (grifos do autor), através de
associações e analogias das produções artísticas com informações simbólicas de
mitos, contos de fadas, lendas, isto é, dos registros do inconsciente coletivo.
Já a linha psicanalítica da arteterapia começa
com o trabalho de Margaret Naumburg, com a arteterapia de orientação dinâmica.
Conforme Ciornai (2004), Naumburg escreveu o primeiro livro na área, chamado Introdução à Arteterapia (1973),
republicação de uma pesquisa sua, de 1947. Naumburg trabalhava com o conteúdo
inconsciente expresso nas imagens artísticas produzidas e solicitava ao
paciente que, em associação livre, buscasse o significado simbólico de suas
produções artísticas. De acordo com Reis (2014 b), baseava seu trabalho na
ideia de Freud de que o inconsciente se expressaria mais em imagens do que em
palavras; tais imagens poderiam, assim, ser relacionadas a medos, fantasias,
conteúdos oníricos, memórias infantis e conflitos do paciente. Além disso, para
Naumburg, as imagens materializadas sobrepujam as dificuldades da linguagem verbal.
Desta forma, a arteterapia diminui o tempo de terapia e a transferência
negativa.
Outro nome importante na arteterapia
psicanalítica é o de Edith Krammer, que se vale da ideia freudiana de arte como
sublimação (processo pelo qual as pulsões sexuais são desviadas de seu objeto
para as atividades culturais). Para ela,
segundo Reis (2014 b), o próprio fazer arte já era terapêutico, sem haver
necessidade de interpretações nem verbalizações. Para Krammer, a atividade
criadora e artística leva à resolução do conflito entre o id e o superego,
ocasionando o fortalecimento do ego e o equilíbrio psíquico. Assim, cabe ao
arteterapeuta oferecer o recurso artístico ao paciente para que possa encontrar
uma válvula de escape de desejos, sentimentos, impulsos, pensamentos –
socialmente inaceitáveis –, evitando que sejam recalcados e que retornem como
sintomas. Conforme Ciornai (2004), Edith Krammer também acreditava que o ensino
da arte poderia levar à promoção da saúde coletiva.
Desenvolvida por Janie Rhyne, a arteterapia
gestáltica articula os conceitos da Gestalt Terapia à utilização de técnicas e materiais artísticos. Foi sistematizada por Rhyne
em 1973 no livro The Gestalt Art
Experience, publicado no Brasil com o título de Arte e Gestalt: Padrões que Convergem. Aqui no Brasil, a
arteterapia gestáltica encontra voz no trabalho de Selma Ciornai, que leciona e coordena
o curso de arteterapia gestáltica no Instituto
Sedes Sapientiae, em Porto Alegre (REIS, 2014 b).
Reis (2014 b)
explica que, na arteterapia gestáltica, existe um conceito importante, central
na Gestalt: o da percepção. Assim, o processo arteterapêutico gestáltico visa
ampliar a percepção do indivíduo sobre si mesmo, através da observação e
correlação entre as formas criadas e a subjetividade do criador. O objetivo é
que o indivíduo entenda, a partir da expressão artística, a maneira como
percebe o mundo e a si mesmo. Deste modo, a obra criada passa a ser uma ponte
entre o mundo interno e externo do criador, ampliando sua awareness (termo fundamental na Gestalt-terapia, sem tradução
exata, com um sentido aproximado de autopercepção para uma maior consciência).
No sul do Brasil, em Santa Catarina,
existem relatos de trabalhos feitos com arte e em arteterapia com o aporte da
psicologia social sócio-cultural, de Vygotsky. Nomes importantes desse trabalho
são Andréa Zanella, Alice Casanova dos Reis, Kleber Prado Filho e Kátia Maheirie,
que desenvolvem pesquisas no NUPRA e publicam artigos acadêmicos. Partindo da
concepção de sujeito como um ser socialmente determinado, a abordagem
vygotskyana entende o indivíduo como alguém formado pelo social, sendo produto
do contexto histórico e cultural em que se insere, mas alguém que, igualmente,
produz e transforma a realidade. Nesta concepção, “o sujeito é um processo contínuo
de vir a ser em relação, com um outro. O sujeito é um agente de transformações
que ao transformar a realidade se transforma, constituindo um novo sujeito e
uma nova realidade (...)” (ZANELLA E MAHEIRIE, ORG., 2010, P. 13). Para
Vygotsky, a arte sempre implica em transformação e atua no psiquismo do
indivíduo, modificando-lhe a consciência. Assim, o trabalho arteterapêutico que
se baseia nos princípios deste psicólogo russo entende que a arte, como
atividade criadora, permite que o indivíduo se recrie e recrie a sua realidade,
tornando-se ator do cenário social no qual se insere e, simultaneamente, autor
de sua realidade interna, também. A meu ver, essa abordagem é fundamental para
que o sujeito compreenda seu papel e sua atuação na sociedade e tenha a
possibilidade de se ver como agente transformador do seu contexto social. Além
disso, a arteterapia baseada no sócio-interacionismo enxerga o sujeito como um
(re)criador de si e a arte como mediadora do processo de transformação do
psiquismo do indivíduo.
Em todas as abordagens citadas, o que se
pode notar em comum entre elas é a visão de homem como ser criativo, capaz de
criar e de se recriar através das diferentes formas de expressão artística.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
· CIORNAI, Selma (org.). Percursos em arteterapia: arteterapia gestáltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. São Paulo: Summus Editorial, 2004.Disponível em: <https://www.ubaatbrasil.com/> Acesso em: 02/09/2019.
· NAUMBURG, M. An introduction to art therapy: Studies of the “free” art expression of behavior problem children and adolescents as a means of diagnosis and therapy. New York, NY: Teachers College Press. (Original work published 1947), 1973.
· PHILIPPINI, A. Universo Junguiano e Arteterapia. Coleção de Revistas de Arteterapia Imagens da Transformação, Rio de Janeiro, volume II, n. 2, 1995. Pomar.
· REIS, A. (2014 a). A arte como dispositivo à recriação de si: uma prática em psicologia social baseada no fazer artístico. Barbaroi Revista do Departamento de Ciências Humanas, Santa Cruz do Sul, 2014, n.40, pp. 246-263. Disponível em: < https://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/view/3386> Acesso em: 08/10/2019.
· REIS, A. (2014 b). Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do psicólogo. Revista Psicologia Ciência e Profissão, 2014, Brasília, v. 34, no 1, pp. 142-157. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932014000100011> Acesso em: 05/09/19.
· RHYNE. J. Arte e gestalt: padrões que convergem (M. B. P. Norgren, trad.). São Paulo: Summus, 2000.
· ZANELLA, A. e MAHEIRIE, K., orgs. Diálogos em Psicologia Social e a Arte. 1 ed. Curitiba: Editora CRV, 2010.
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Isabel Cristina Pires
A autora é arteterapeuta e psicóloga. Tem formação e experiência em Antiginástica ® Thèrese Bertherat, é jornalista e professora de inglês e francês. Realiza atendimentos clínicos individuais e grupais em Arteterapia.
bel.antigin@gmail.com
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