Terapeuta, Professora e Artista. Não necessariamente nessa ordem...
por Flávia Hargreaves
Revisão: Erika Kohler
O texto trata de um tema importante para muitos arteterapeutas que, como eu, também são professores e artistas. Para que ele ganhe vida preciso dos comentários de vocês compartilhando suas experiências e visão sobre o assunto.
Boa leitura.
Flávia Hargreaves
Terapeuta, Professora e Artista.
Não necessariamente nessa ordem...
por Flávia Hargreaves
Oficina de Desenho "Ligando os
Pontos" realizada pela equipe artes.LOCUS, no evento "Arteterapia no
Parque", promovido pela AARJ em outubro de 2019. Fotografia: Fernando
Hargreaves.
Ter
estudado Arteterapia e Licenciatura em Artes simultâneamente, entre 2006 e
2010, me ajudou a construir uma identidade profissional diferenciada como
arteterapeuta e professora. Além disso, promoveu uma revisão no meu entendimento
sobre o que é ser artista.
A "terapeuta", a "professora" e a "artista", ou melhor dizendo, a "arteterapeuta", a "professora de artes" e a "artista", foram convidadas igualmente a participar dessa construção, ajustando-se de acordo com os objetivos de cada trabalho. É importante ressaltar que as três profissões trazem a "arte" em comum, mesmo que cumprindo funções diferenciadas. Por esta razão, precisei reconhecê-las na minha prática profissional e na minha vida. Desmisturá-las em suas funções para criar um modo de trabalhar a arte na terapia, no ensino da arte e no desenvolvimento da minha expressão artística.
Aos
poucos fui percebendo que precisava estar inteira pra me colocar diante do
outro, tanto como professora quanto como terapeuta. E então descobri que podia
continuar conectada em todas as minhas áreas porque dessa forma estaria ali por
completo. Também foi significativo ter voltado a minha atenção para a relação
que cada um tem com a arte identificando bloqueios e resistências diante do
"fazer arte" e do “espontâneo”. Precisei reconhecê-los em mim também.
Para isso, foi preciso abrir um espaço interno de diálogo sem certo ou errado;
bom ou ruim e desconstruir crenças a respeito da arte, da terapia e do ensino.
Só assim pude "desconfundir" as coisas e manter a integridade que
precisava contemplar a "terapeuta", a "professora" e a
"artista". Não necessariamente nessa ordem. Precisava torná-las
"colaborativas".
Fotografias de autoria de alunos. 2019.
Seguindo
por esse caminho, busquei um ajuste dinâmico das minhas práticas
profissionais. Compreendi que enquanto uma ocupa o primeiro plano, as
demais se tornam auxiliares. Mas como isso se dá na prática? Como a
artista pode ajudar a terapeuta ou como a terapeuta ajuda a professora e
assim por diante? Responder a essas perguntas ainda não é uma tarefa fácil. Acredito
inclusive que muitos arteterapeutas/professores/artistas também estejam vivenciando
essas questões no seu dia a dia. Por isso é importante trazer esse tema à tona
para discussão. E SIM, quero comentários com depoimentos e colaborações sobre o
tema.
Voltando às perguntas, como se dá esse ajuste dinâmico?!
Vamos
pensar no primeiro caso: quando a artista ajuda a terapeuta. A terapeuta está
em primeiro plano. Essa é a função principal. A artista e a professora ficam em
segundo plano, prontas para dar suporte a primeira quando solicitadas. A
artista vai ajudar na flexibilidade e vai ampliar as possibilidades diante dos
materiais. Ela conhece mil e uma maneiras de criar um autorretrato, porque ela tem
a experiência artística. Mas sua intuição vai ser filtrada pela terapeuta de
modo que sua colaboração seja realmente útil. Do mesmo modo, quando a
professora ficar ansiosa por ensinar a fazer algo, sua colaboração será
filtrada. Às vezes ensinar a base técnica de uma prática vai auxiliar o cliente
na sua expressão. Esse ajuste precisa estar ativo o tempo todo. E, é claro que
vamos errar, perder a mão, mas com a prática isso tende a fluir com
naturalidade. Pelo menos esta é a meta.
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Flávia Hargreaves - Coordenadora do projeto artes.LOCUS - artes e desenvolvimento humano, Arteterapeuta AARJ 402, Professora de Arteliê de Artes e História da Arte aplicada à Arteterapia, Professora dos cursos de Formação Ligia Diniz, Leiza Pereira e Baalaka. Graduada em Comunicação Visual e Licenciatura em Artes Plásticas (EBA-UFRJ), Formação em Arteterapia Ligia Diniz. Foi colaboradora da Casa das Palmeiras (2014-2018) e Casa Verde (2009).
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Regina Freitas - via facebook em 20/05/20
ResponderExcluir"Somos multifacetadas, e essa multiplicidade nos torna únicas. O arranjo dessas múltiplas faces é único e nos torna originais. Participei de perto da construção dessa Terapeuta, Professora, Artista que habitam um único Ser, e posso dizer que é lindo quando esse diálogo existe de forma harmônica. Parabéns Flavia!!"
Comentamos isso ontem. Acho que você coordena bem esses três aspectos, complementando-os de uma forma enriquecedora para o seu trabalho de arteterapia e definindo o seu estilo pessoal de forma eficiente e original. Continue pesquisando o tema e compartilhando conosco. Obrigada pelas suas reflexões e por seu lindo trabalho! Bjs
ResponderExcluirAssinado: Isabel Pires
ExcluirKarla Pustilnick - via facebook em 20/05/20
ResponderExcluirFlávia, ótimas colocações! Creio que o reconhecimento e a integração de "tudo e todos" que somos seja o caminho para o bem viver. Conseguir associar os próprios potenciais e conhecimentos nesta atividade engrandece a prática e favorece o resultado. Vc tem sido um exemplo rico de como essa ação colaborativa age na prática. Como sua aluna e sua cliente em artetarapia, experimento a profundidade e a excelência da sua integração. Gratidão!
Marisa Resnitzky Mizrahi - via facebook em 20/05/20
ResponderExcluirMuito bom estar perto do fazer do artista. Somos parte.. Sendo alunos ou professores, Terapeutas, artistas e/ou admiradores. As tintas se misturam com o próprio corpo, e o orgânico transborda, fazendo parte, agora sim nos tornando inteira(o)s . É como na música, a sinfonia preenche e se torna parte. Ou então quando sentimos que o instrumento musical é uma extensão de nosso próprio corpo. Flavia, você tem esta multiplicidade. Quando me perguntam, não sei dizer se sou psicóloga, arte-terapeuta ou artista. Somos uma multiplicidade ! É isso é maravilhoso ! Fazer o BEM, fazer o belo, tudo junto e bem misturado, criando cores novas e infinitas sensações ! Bjkas. Nos vemos na sua LIVE !
Muito interessante a sua reflexão. Acredito que aprendemos ao longo da vida devido à cultura a separar tudo em partes, porque é assim que a lógica trabalha. Mas o sentimento não. Ele mistura tudo. Somos ao mesmo tempo vários e isso é muito bom, porque cada um desses papéis exercidos tem de formas diferentes muito a contribuir para um olhar ampliado, um olhar empático, generoso para o outro, uma vez que tanto o artista quanto o arteterapeuta e o professor estão num exercício de escuta e de alteridade com o outro, para que a vida seja germinada em todo seu potencial.
ResponderExcluirParabéns pelo seu trabalho tão fundamental para todos, mas especialmente para profissionais em início de carreira. Apontar caminhos é uma bela e generosa contribuição.