ACERCA DA OBRA DE HÉLIO OITICICA
por Amanda Medeiros
Acerca da obra de Hélio Oiticica
por Amanda Medeiros
Éden / Eden, 1969. Coleção [Collection] César e Cláudio Oiticica, Rio de Janeiro. Fotografias: César Oiticica, 2010. |
Esse ano comemoro dez anos que trabalhei na exposição “Hélio Oiticica: Museu é o Mundo” que ocupou pontos importantes na cidade do Rio de Janeiro. Acredito na força da obra desse artista que através de seu trabalho provoca reflexão entorno do mundo e do indivíduo. É um convite a vestir-se com um parangolé e permitir um mergulho do corpo.
Organizei um metaesquema.
Vesti meu parangolé e carreguei
meu bólide bolsa.
Embarquei em uma Penetrável travessia
pelo Rijanviera.
Nessa Tropicália estava
em busca de um Grande Núcleo e quando me deparei
estava em um aconchegante Ninho.
Talvez fosse o efeito da Cosmococa que
me fez sentir uma espécie de Éden ou talvez o simples fato de
me permitir experimentar o experimental me deslocou para essa experiência Suprasensorial.
Seja marginal
Seja herói
Seja quem você deseja ser!
Hélio Oiticica, um dos artistas brasileiros com grande projeção internacional, nasceu no Rio de Janeiro em 1937 e veio a falecer em 1980. Absolutamente original, sua obra apresenta várias proposições e conceitos inovadores. Teórico brilhante, exercendo total controle intelectual sobre seu trabalho criador, definido por ele mesmo como um “programador in progress”, Oiticica elaborou seus conceitos a partir de sua própria obra, encarada por ele como um “delírio concreto”: “Estou farto de todos os conceituais e nada tenho com eles. Meus projetos são, antes de mais nada, para serem executados e detesto a ideia de que seriam utópicos”, dizia em 1972, reafirmando este ponto de vista em sua última entrevista, de 1980: “Não existe ideia separada do objeto, só existe o grande mundo da invenção”.
Questionou e refletiu sobre a arte internacional, o que lhe permitiu reformular, com igual ousadia, outros conceitos e práticas correntes na vanguarda do século XX, tais como ready-made, box-form, merzbau, objeto, happening, anti-arte, eventos, instalações, environments e outros oriundos da arte construtiva, do Dada, da pop, da body-art.
Seu diálogo com o Brasil, com a arte e a cultura brasileiras, foi sempre intensa, uma relação de amor e ódio. “Cada centímetro do chão de Mangueira eu amo com a mesma intensidade com que me dedico ao meu trabalho criador”, dizia, mas se rebelava contra o conformismo, o oficialismo e a burrice reinante na arte brasileira e dizia que nossa falta de caráter era diarréia: “Para construir algo é preciso mergulhar na merda”.
Sua obra criadora foi a realização, nos planos estéticos e ético, do que poderia ser chamado de uma teoria de marginalidade. Mas uma marginalidade radical, e não apenas álibi para uma anticarreira apoiada no sistema. Radicalidade que o levou a considerar a arte como revolta contra toda forma de opressão, fosse ela intelectual, estética, metafísica e principalmente social, revolta semelhante a do bandido que rouba e mata, em busca de felicidade e também a do revolucionário político. Essas bases ideológicas constituídas por Hélio são bem Duchamp.
O Neoconcretismo de Hélio Oiticica e o Grupo de Frente
Hélio Oiticica fez parte do Grupo Frente que foi um grupo de vanguarda constituído no início da década de sessenta por Lygia Clark, Lygia Pape, Aluísio Carvão e Franz Weissmann, que apresentavam ainda um trabalho muito primitivo, mas que, no entanto já representava um núcleo de ação para a ruptura que posteriormente Ronaldo Brito nos coloca que:
“As
tendências artísticas são inicialmente uma resposta ao corte ocorrido no
interior da produção de arte e em seu estatuto social a partir do cubismo.
Tratava-se não apenas de transformar procedimentos, métodos e teorias de
produção de arte, mas também de repensar uma atividade cuja a inserção social
já não se fazia mais “naturalmente”. Era necessário reavaliar suas
significações mais amplas.”
O Grupo Neoconcreto que representava de fato a ruptura da arte construtivista no Brasil no final da década de cinquenta. No trecho abaixo do Manifesto Neoconcreto redigido por Ferreira Gullar e publicado em 1959 traduz o que está por se exprimir na obra de Hélio Oiticica.
“É porque a obra de arte não se limita a
ocupar um lugar no espaço objetivo – mas o transcende ao fundar nele uma
significação nova – que as noções objetivas de tempo, espaço, forma, estrutura,
cor etc não são suficientes para compreender a obra de arte, para dar conta de
sua realidade”.
Nesse sentido vamos traçar rapidamente o caminho percorrido por Hélio até os anos sessenta onde começa a desenvolver seu trabalho fora da pintura até chegar ao Crelazer. E perceber que para Hélio pintura e escultura são formas ultrapassadas da representatividade da arte será importante para permearmos o caminho que foi desenvolvido por ele.
O Projeto Éden
Éden / Eden, 1969. Coleção [Collection] César e Cláudio Oiticica, Rio de Janeiro. Fotografias: César Oiticica, 2010. |
Na exposição individual que Hélio realizou na galeria
Whitechapel, de Londres, em 1969, que ganhou uma versão na retrospectiva do
artista “Hélio Oiticica: Museu é o Mundo”,em 2010, Hélio elaborou este conceito de lazer criativo o Crelazer, aplicável especialmente ao
Éden, obra que somava uma cama-bólide, um parangolé (área mítica) e vários
penetráveis. Citando a Merzbau de Schwitters, dizia: “Habitar um recinto é mais
do que estar nele, é crescer com ele, é dar significação à casca-ovo”. Imaginou
este território do Crelazer na forma de
um recinto-obra, o Barracão (1968) que seria posto em prática
aqui, no Brasil. Porém, transferindo-se, logo depois para Nova York, onde
residiu cerca de sete anos, transformou seu próprio apartamento em recinto-obra:
“No meu ninho a cama está desfeita e nunca penso nela feita”. O escritor
Silviano Santiago descreveu assim este ninho nova-iorquino: “... uma espécie de
beliche de navio, acortinado de filó, que ao mesmo tempo dava a sensação de
aconchego materno e levava a ver o ao redor como que esfumaçado. Nessa época,
Hélio Oiticica era praticamente eletrônico. Ali, nos ninhos, ficava dias
inteiros, com sua indispensável televisão, câmera fotográfica, projetor de
slides, gravador, fitas cassete, telefone. Eterno tilintar”.
Na Obra de Hélio não podemos concluir nada a não ser que tudo derivado da escultura e da pintura vira objeto, que é, portanto um caminho, uma passagem para esta nova síntese. O objeto foi uma passagem para proposições que resultem em experiências cada vez mais comprometidas com o comportamento individual de cada participador sem qualquer condicionamento Behaviorista, permitindo ao expectador o exercício da liberdade individual e experimental que se desdobra em diversificadas leituras.
Éden / Eden, 1969. Coleção [Collection] César e Cláudio Oiticica, Rio de Janeiro. Fotografias: César Oiticica, 2010. |
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Referências Bibliograficas
Brito, Ronaldo. Neoconcretismo
Vértice e Ruptura do Projeto Construtivo Brasileiro. 2ed.Cosac&Naif,
2002.
Filho, César
Oiticica. Série Encontros: Hélio
Oiticica. Auzogue Editorial, 2009.
Oiticica, Hélio. Hélio Oiticica Museu é o Mundo. Auzogue
Editorial, 2011.
Sites
http://www.brooklynrail.org/2016/11/artseen/hlio-oiticica-to-organize-delirium (último acesso 10/12/2016)
http://www.mariosantiago.net/Textos%20em%20PDF/Manifesto%20neoconcreto.pdf (último acesso 10/12/2016)
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Amanda Medeiros - Mãe de dois,professora das séries iniciais,licenciada em Artes Plásticas e Arteterapeuta. Atuei como professora de artes por mais de dez anos e onde pude trilhar em importantes instituições como: Museu Casa do Pontal, Exposição Museu é o Mundo de Hélio Oiticia, Colégio Notre Dame Ipanema, Marista São José,Rede Salesiana de Ensino, dentre outras. Fui aluna bolsista na EAV-Parque Lage o que ampliou meu olhar. Sou facilitadora credenciada em SoulCollage® e Educadora da primeira infância pela Positive Discipline Association (Disciplina Positiva). Certificada em tratamento de jovens com TEA através de terapias de artes expressivas pela John F. kennedy University na Califórnia. Minha primeira experiência com a arteterapia foi estimulante, amigável e inspiradora. A energia do grupo me libertou. Eu nunca tinha sentido algo assim durante minha trajetória e desde então meu propósito é utilizar a arte como uma ferramenta transgressora. Hoje sou Idealizadora e fundadora do projeto Terapia Pela Arte e atuo com crianças, jovens, adultos e consultoria institucional em prol de uma vida mais criativa. (pode adaptar)
contato@terapiapelararte.com
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