ACORDANDO O CORPO, INTERLIGANDO A MENTE, PREENCHENDO A ALMA
Por Cristiane Gerolis
Contato: crisgerolis@gmail.com
Hoje o
artes.LOCUS recebe Cristiane Gerolis, psicóloga e arteterapeuta, compartilhando
conosco sua experiência como coordenadora e facilitadora do grupo arteterapêutico "CORPOREIDADE”, voltado para mulheres entre quarenta de
sessenta anos de idade, no qual articulou práticas de consciência corporal e expressão plástica, ao longo de três meses em 2017.
Boa leitura,
Flavia
Hargreaves
Coordenadora
do projeto artes.LOCUS
ACORDANDO O CORPO,
INTERLIGANDO A MENTE,
PREENCHENDO A ALMA.
PREENCHENDO A ALMA.
Há
muito tempo trabalho como arteterapeuta e recentemente me deparei com a modalidade
expressiva "consciência corporal". Através dos atendimentos comecei a perceber
como esse corpo era visto de forma tão dissociada e que a linguagem corporal não condizia
com a linguagem verbal. Segundo Leloup, (2015) “o corpo não mente”.
E
como que por sincronicidade tudo a minha volta me levava ao movimento, ao
despertar dessa corporeidade. Minhas produções, os meus clientes e os meus
filhos. Tudo se encaminhava para um despertar dessa corporeidade para a vida.
Este
corpo, antes encoberto e reprimido pela sociedade, como um mero suporte das
insígnias, muda de lugar na atualidade, saindo do lugar de suporte de valor e
passando a ser o próprio valor. A visão pós-moderna traz uma preocupação cada vez
maior com o culto ao corpo que agora é o protagonista da cena e pode tudo. Porém,
permanece na oralidade, pois as relações tornaram-se cada vez mais virtuais,
não simbolizando e não chegando à sua maturidade.
A experiência me ensinou que não é apenas descarregando energia, correndo, andando malhando, que se
dissolve a pressão interior. Os sentimentos precisam achar sua expressão e o
impulso inconsciente, que faz aflorar conteúdos à consciência, precisa ser
realizado. O encontro com o corpo no movimento criativo ou meditativo pode
trazer além da renovação das forças, conteúdos à consciência, e um fluir da
energia vital.
O QUE É CORPOREIDADE?
É
a capacidade de o Indivíduo sentir e utilizar o corpo como ferramenta de
manifestação e interação com o mundo. A maneira pela qual o cérebro reconhece e
utiliza o corpo como instrumento relacional.
É
necessário saber entender o que o corpo quer expressar, o que está querendo
comunicar, mensagens oníricas, inconscientes que vão desvelando-se sendo
descobertas e percebidas. Desenvolver essa percepção nos leva a compreensão da
realidade psíquica. A psique ficando desprovida da capacidade criativa favorece
a doença, manifestando-se no corpo físico. “O
corpo pode ser um canal para expressar as necessidades da psique. Os sintomas
corporais muitas vezes nos remetem às memórias pessoais, por vezes, também as
coletivas, aos arquétipos e aos instintos que desconhecemos”. (Arcuri, 2004)
Não temos um corpo e sim somos um corpo.
CORPOREIDADE/ ENERGIA PSÍQUICA/ FLOW/ CRIATIVIDADE
Quando
comecei a aprofundar nesse estudo, vi através de Irene Gaete Arcuri (2004), que
o corpo guarda uma memória corporal, algo que fica registrado, marcado e à
medida que nos conhecemos melhor e tomamos consciência corporal de nós mesmos,
eliminamos as couraças e deixamos o corpo seguir seu fluxo de energia
livremente. Este processo faz parte do autoconhecimento e desenvolvimento
pessoal, onde se pratica a busca de si mesmo, valorizando-se e cuidando do
corpo, reintegrando o eu, o próprio ser a totalidade corpo, mente, energia e
espírito.
No
trabalho arteterapêutico, para obter um bom resultado, necessita-se estar
atento aos materiais expressivos que podem ser utilizados para que favoreçam
transformações. Verifica-se que movimentar-se e expressar-se, sempre que
estamos saudáveis, faz com que a energia flua de forma desimpedida. Porém, o
que se percebe por vezes é o refluxo dessa energia psíquica, pois o corpo
encontra-se em tensões, repressões, encapsulamentos, causando sintomas
desagradáveis como desânimo, fadiga, apatia entre outros. "O processo criativo ativado de maneira adequada, restaura,
resgata, recupera, reorganiza, redireciona e libera o fluxo de energia psíquica
em prol do bem-estar e da expressividade de cada indivíduo.” (PHILIPPPINI,
2011).
Jung
recorreu ao conceito de energia da física para permitir uma definição menos restrita,
abandonando o termo “libido”, dado por Freud que estaria associada à vontade,
prazer e desejo, instinto sexual. Passando então a designar energia psíquica ou
energia vital. E os dois movimentos básicos pelos quais a energia psíquica
circula, corresponde à regressão e progressão.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Através
de um breve relato, irei passar o trabalho que foi desenvolvido com 5 mulheres,
entre 48 e 60 anos de idade. Em encontros quinzenais com duração de três horas
o trabalho foi desenvolvido. A proposta era trabalhar o movimento como meio de
expressão, levando a um desbloqueio desse corpo para que se acesse melhor esse
canal criativo e de expansão.
O
grupo começava a jornada de descobrir o próprio corpo, através de um “acordar
desse corpo” com movimentos, ações, através de uma forma bem lúdica e criativa.
Sensibilizando esse corpo, aos poucos lentamente fui introduzindo um “despertar”
com muita delicadeza e um olhar e ouvido atentos à todas as manifestações.
Tocar o próprio corpo e descobrir os
limites e potenciais. Se reconhecer e
perceber se a linguagem corporal condiz com a linguagem verbal. O grupo
tornava-se cada vez mais unido e a escuta do outro e acolhida se dava não
somente pelo ouvido, mas também através de todo corpo.
Foram
introduzidas músicas, previamente selecionadas para atingir as finalidades do dia, e era solicitado que se expressassem, as danças
espontâneas surgiam, memórias afetivas eram despertadas, escritas criativas,
despertavam para conteúdos latentes. Parangolés traziam outra percepção ao
corpo. Se olhar no espelho e perceber o
outro no espelho, onde eu termino e onde começa o outro. Relaxamentos e
imaginação ativa sendo explorados, todos os sentidos sendo sensibilizados. Tudo
bem conectado e elaborado para encaminhar cada vez mais a essa conexão ao
religar desse corpo, com suas funções essenciais. Cada participante teve que
elaborar uma performance, com escolha de música, e vestimenta e apresentar as
colegas, onde a entrega foi ímpar e a troca no grupo de essencial importância
no despertar de cada uma. Confiar no outro, sendo guiado pelo espaço, ativando
seus outros sentidos, a forma de comunicação neste momento passava cada vez
mais a ser única. Sua conexão com o corpo aumentava e curtiam, de forma lúdica
e leve, trazendo essas mulheres cada vez mais
a sua conexão com o seu próprio eu, self.
Muito
lindo, perceber esse desabrochar, a criação de um próprio corpo de grupo.
Materializado em uma imagem de mulher, com pura conexão com a natureza e seus
sentidos. As imagens “falam” e trazem uma nutrição de conteúdo para cada uma
delas. A entrega e confiança delas foram essenciais para esse mergulho em si
mesmo. E para finalizar cada participante recebeu um manto vermelho, que seria
utilizado quando precisassem se vestir daqueles momentos de conexão e força, onde
a construção começava no grupo, e este seria completado durante a caminhada de
cada uma.
Grupo Arteterapêutico Corporeidade, Rio de Janeiro, 2017. Fotografia de Cristiane Gerolis.
Diante
do trabalho que foi exposto, verificou-se que à medida que o corpo desenvolvia a consciência corporal, aumentava a sensibilidade, a
imaginação, a criatividade e a comunicação. A
partir do desenvolvimento de um olhar consciente, mais atento à
percepção desse corpo, foi facilitada a compreensão da própria realidade
psíquica. O corpo tornou-se um instrumento importante na aquisição de uma visão
unificadora sobre si mesmo, quando pode haver um diálogo do consciente com o
inconsciente. A conscientização do movimento corporal facilitou a assimilação do nosso
mundo interior, provocando mudanças significativas na vida dos participantes. Essa ampliação da consciência também colaborou para o fortalecimento do ego. Ao longo do processo o grupo trazia, cada vez mais, fluidez na sua energia psíquica, e o corpo ganhou espaço e propriedade, percebendo e descobrindo a importância da respiração, de se tocar e, principalmente, de se expressar.
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REFERÊNCIAS
LELOUP, Jean Yves – O corpo e seus símbolos
– 2015 – 23 edição – Editora Vozes.
ARCURI, Irene Gaete – Memória corporal, o
simbolismo do corpo na trajetória da vida – 2004 – Editora Vetor.
PHILIPPINI, Angela – Grupos em Arteterapia
– 2011 – Editora WAK.
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Sobre a autora:
Cristiane
Gerolis é graduada em Psicologia, pós graduada em Psicologia Hospitalar e
Arteterapia. Atua como Psicóloga/Arteterapeuta em consultório particular e na
Clínica Pomar, realizando atendimentos individuais e em grupo. Ministra
Workshop em Corporeidade, tendo como objetivo sensibilizar o corpo, eliminando
couraças, conduzindo ao auto conhecimento e desenvolvimento pessoal dos
participantes.
Acompanhe o trabalho de Cristiane Gerolis pelas redes sociais:
instagram: @crisgerolis_arteterapia
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirArtigo super interessante, onde vc faz estes cursos?
ResponderExcluirÉ fundamental que haja uma renovação do pensamento ocidental onde corpo e mente sejam abordados, sentidos e compreendidos como uma unidade indivisível e sem fronteiras definidas. Nas tradições milenares orientais, a mente e o corpo são compreendidos como uma unidade . Hoje, a neurociência e o estudo da neuroplasticidade cerebral reafirmam essa integração corpo e mente através das delicadas e plásticas redes neuronais. Parabéns Cristiane Gerolis por contribuir para uma abordagem arteterapêutica com essa visão integral do ser.
ResponderExcluirTrabalho sensível, dedicado e rico em detalhes como as diversas nuances do Ser. Parabéns.
ResponderExcluirMaravilhoso trabalho dessa pessoa incrível que é Cristiane. Mente e corpo reagindo em conjunto através do estimulo, liberando... libertando o ser!
ResponderExcluirADOREI O TEXTO! QUANDO FOR FAZER OUTRO workshop ANUNCIA AQUI POR FAVOR.
ResponderExcluirCristiane Gerolis, definitivamente, não é e nem propõe apenas um simples movimento corporal coreografada.
ResponderExcluirIsso porque essa arteterapeuta plena, é grande visionária investe no corpo, interliga-o mente para se conquistar a alma em sua essência preciosa.
Suas tecnicas dinamizam, estimulam e envolvem a todos. No trabalho específico para asvmulheses de 40 a 60 anos, fico imaginando sobre o comportamento surgido em cada uma delas, mulheres agora livres das amarras sociais e das dores emocionais, provenientes de uma cultura machista e insensível. Parabéns, Cris, parabéns, amiga, parabéns, mulher! Salve a sua corporeidade que mexe, remexe e dança com os corações que ainda pulsam.