FORMAÇÃO EM ARTETERAPIA # 1

Por Flávia Hargreaves
fmhartes@gmail.com
@hargreaves.flavia

A Arteterapia, desde 2013, é reconhecida como ocupação profissional pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO 226310) e em 2017 passou a compor o Sistema Único de Saúde (SUS) como prática integrativa. Temos ainda o Projeto de Lei 3416-2015, em tramitação na Câmara dos Deputados, cuja ementa regulamenta a profissão do arteterapeuta. Gradativamente a profissão ganha visibilidade e, em consequência do interesse crescente, os cursos de formação profissional se multiplicam.
O tema “Formação em Arteterapia” me interessa, de modo especial, porque além de ser arteterapeuta, atuo como docente na área, e acredito que seja um tema que diga respeito a todos os profissionais, estudantes e interessados na profissão. Em 2017, percebi como sabia pouco a respeito da nossa história e fui buscar informações nos sites dos órgãos representativos da classe e nas poucas publicações que tratam do tema. Não satisfeita, fui conversar e buscar informações com os profissionais que tiveram um papel importante nessa trajetória. Sendo assim, este texto inicia uma série sobre a “Formação em Arteterapia”, com foco no Rio de Janeiro, com o objetivo de desvendar seus primeiros passos, trazendo depoimentos e artigos de formadores e professores.
Hoje trazemos para vocês uma conversa com Ângela Philippini.
Boa leitura,                                 
Flávia Hargreaves
Coordenadora do projeto artes.LOCUS

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FORMAÇÃO EM ARTETERAPIA#1
por Flávia Hargreaves
Aulas do módulo História da Arte  e Ateliê de Artes ministrados por Flávia Hargreaves nos cursos de Formação em Arteterapia: Arteterapia Ligia Diniz; Baalaka; e Espaço Leiza Pereira,  entre 2017 e 2019. Fotografia: Flávia Hargreaves.
  
O assunto me interessa tanto por ser arteterapeuta (formada no Curso Arteterapia Ligia Diniz, 2008) quanto por atuar como docente em cursos de formação em Arteterapia no Rio de Janeiro [1], onde leciono as disciplinas Ateliê de Artes e História da Arte, ambas direcionadas à Arteterapia. Minha prática docente é fundamentada nos meus estudos teórico/práticos da Arte, sendo graduada em Comunicação Visual e em Licenciatura em Educação Arttística com Habilitação em Artes Plásticas (UFRJ), articulados à minha experiência como artista e arteterapeuta. Acredito que as questões relativas à “Formação em Arteterapia”, em sua maioria no formato de cursos livres, afetam diretamente os estudantes e aspirantes a ingressar na profissão, mas também, de modo menos direto, os já profissionais atuantes no mercado.

Em 2017, na tentativa de reconstruir os primeiros passos do ensino de Arteterapia no Rio de Janeiro, fui conversar com Ângela Philipini, diretora acadêmica da AARJ (Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro), coordenadora e professora dos cursos de formação e pós-graduação latu-sensu da Clínica Pomar.

Conversando com Ângela Philippini: os primeiros passos

Em nossa conversa, Ângela Philippini contou que o primeiro curso de Arteterapia no Rio de Janeiro foi criado nos anos 70, organizado pelo Instituto Nacional de Arteterapia e coordenado por Luiz Duprat, formado nos E.U.A.. Entre os alunos deste curso destacou as arteterapeutas Angela Carrazedo e Elizabeth Vieira, com quem iniciou seus estudos em Arteterapia, em 1979.

Três anos depois funda a Clínica Pomar, onde inicia um grupo de estudos e, em 1984, passa a oferecer curso de formação em Arteterapia, sendo o mais antigo em atividade no Rio de Janeiro. Eram os primeiros passos da Arteterapia rumo ao reconhecimento como profissão no Brasil.

O grupo de estudos da Clínica Pomar teve como referência principal a Arteterapia norte-americana, estudando e traduzindo artigos da American Art Therapy Association (AATA). Após um ano e meio de atividade, o grupo sugere a criação de um curso de formação e Ângela Philippini aceita o desafio do pioneirismo.


Publicações da AATA, anos 90, e publicações sobre Arteterapia, EUA, anos 80 e 90. 
Fotografia: Flávia Hargreaves.

A falta de referência de modelos de curso no Brasil fez com que ela buscasse intercâmbio com instituições estrangeiras como conta em entrevista concedida a Cadernos da AARJ nº 1, em 2009:

“[...] eu fazia intercâmbios com instituições fora do Brasil, que, na realidade, me ajudaram muito e foram muito generosas, pois compartilharam seus programas e partilharam também as suas questões a respeito da organização de seus cursos, principalmente os da Inglaterra [...] – o Gold Smith College e o St. Albans – que mandaram, além dos programas, a transcrição dos comentários dos seus professores nas reuniões de estruturação de seus programas [...].” (PHILIPPINI, 2009, p. 218-219).


Em 1984, inicia a primeira turma de Formação em Arteterapia da Pomar e, como ainda não haviam arteterapeutas formados no Brasil, alguns professores haviam se diplomado no exterior e o curso trazia professores convidados, que davam aulas de modo intensivo ao longo de uma semana, por exemplo. Entre eles destaca o grande apoio recebido por Diane Rode (E.U.A.), arteterapeuta-chefe do Hospital Monte Sinai (N.Y.), que também colaborou muito ao disponiblizar o seu material didático. Em 2004, a Clínica Pomar lança o primeiro curso de pós-graduação latu sensu, inicialmente em parceira com o ISEPE e atualmente com a FAVI. Tanto o curso de formação quanto o de especialização citados são coordenados por Ângela, que também atua como docente.

Voltando a 1984, data da primeira turma da Pomar, na ocasião Ângela já era psicóloga formada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ-1973) e arteterapeuta formada pelo Institut National d’Expression, de Création, d’Art et Transformation (INECAT – Paris - 1984), além de pesquisadora comprometida com a Arteterapia. Ângela destaca que em 2000, concluiu o curso que considerou um divisor de águas, o mestrado profissional em criatividade – MICAT – pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha - 2000), cujo diploma só foi reconhecido no Brasil em 2005 pela PUC – RS. Em 2014, concluiu o doutorado em Ecologia Social pelo EICOS – UFRJ.


Publicações da Clínica Pomar, em destaque a revista "Imagens da Transformação", nº 1, vol. 1. 1994.

Em 1994, lança Imagens da Transformação, a primeira revista brasileira de Arteterapia, organizada por ela e editada pela Pomar, através de sua equipe e de seus contatos. Desde então Ângela publicou diversos livros sobre Arteterapia que se tornaram referência na área. 

Além das publicações, organiza  Congressos, Ciclos de Palestras, Cursos e Workshops, sempre incentivando o estudo continuado e a pesquisa, acadêmica ou não, firmando seu compromisso com a formação de novos profissionais. Ângela também enfatiza na sua fala que a teoria não deve se sobrepor ao trabalho de campo como arteterapeuta e no aprofundamento prático nas linguagens artísticas.

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Referências:
DINIZ, Lígia e NAGEN, Denise. Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro : Entrevista com Angela Philippini concedida a Lígia Diniz e a Denise Nagem.  In: Cadernos da AARJ nº 1 : Estudos em Arteterapia : Diferentes olhares sobre a Arte. Rio de Janeiro. WAK Editora, 2009.
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[1] Atualmente é docente nos cursos: Arteterapia Lígia Diniz, Espaço Baalaka de Arteterapia, Leiza Pereira Arteterapia. Tendo lecionado nos cursos: Artemísia, Claudia Brasil Ateliê, Integrare e  Arteterapia e Processos de Criação, UVA, onde integrou a equipe de coordenação (2015-2016).
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