MAR DE AFECTOS – A construção do meu “eu” profissional.

 Por Marcela Campbell

 


Finalmente me graduei no mestrado em terapias artísticas e criativas em ISEP, Espanha.  Formar-se por uma segunda vez é diferente.  A única semelhança com a primeira é o grande vazio após a correria de final de curso, e que, neste caso, acrescenta-se o mundo pandêmico e em crise.

Encarando o vazio do término, decidi que havia chegado o tão temido momento de me mostrar nas redes sociais, criar a página profissional realmente requeria muito de mim, assim que resolvi encarar tal desafio como forma de me conhecer profissionalmente e de apropriar-me das conquistas.

O primeiro obstáculo estava em relação ao nome. Não queria colocar marcelacampbell.com ou @marcelacampbell.psi, pois não achava que me contemplava por completo. Assim que para me nomear, precisava descobrir antes quem era a Marcela psicóloga, arteterapeuta e teatroterapeuta, quais eram minhas características, objetivos...

Neste processo de descobrir quem é a Marcela profissional, cheguei a uma conclusão que, por incrível que pareça, foi surpreendente: não sou mais recém-formada. Sou psicóloga há três anos e, contabilizando minha experiência de estágios, atuo há cinco. De repente, olhando para trás, me vi com muito mais experiência do que sentia que tinha.

Então, nesse momento, me questionei: como é meu trabalho? Quais são as minhas bases? Como se caracteriza meu atuar terapêutico? Procurando a resposta, compreendi que muito da minha personalidade se transformou em essência para meu trabalho, sendo estas: o amor, o afeto, o brincar e o ser autêntica.

Na mitologia grega, Eros foi a primeira divindade do amor. Eros representava um amor fecundo, criativo e autogerador. Na linha de psicodrama, um dos grandes posicionamentos do terapeuta é o eros terapêutico e no humanismo, é o amor incondicional. Referindo-me a este eros mitológico, terapêutico e incondicional, “amar” é uma das principais bases da minha vida e do meu “eu terapeuta”, ou seja, quando amo, estou aceitando a pessoal tal e como ela é. Para isso, preciso me conhecer, saber o que é meu e também me aceitar como sou.

Aqui na Espanha, de tanto me falarem que sou muito expressiva, comecei a prestar atenção e dei um pouco de razão aos espanhóis. Percebi nessa trajetória, que o afeto e a expressividade perpassaram muito pelo meu viés laboral. Tive a sorte estar na Casa das Palmeiras por três anos, e na minha experiência, haviam duas teorias que estavam sempre pairando pelo ar, eram estas: “emoção de lidar” e “afeto catalizador”.



A Casa se tornou uma base para mim e ali me encontrei no afeto e na expressividade. Quando penso nessas características, penso em “acolhimento e identificação” para conseguir então me relacionar desde o emocionar-se. Para mim, o relacionar-se desde este lugar é tão importante que me considero uma terapeuta das relações. É transformador poder expressar e relacionar-se com seus afetos desde um lugar saudável.

O brincar é meu motor guia. Quando brinco, ativo esse lugar de curiosidade, criatividade e experimentação. Ao experimentar um novo material, sinto essa avalanche de afetos e curiosidade. Outro dia, brincando com o giz de cera, estava curiosa para ver aonde me levaria. Intrigada em como não gostava da textura, decidi passar o trabalho para tinta acrílica. O brincar permite também o humor, um formato criativo de encarar a vida. Brincar na experimentação de um novo lugar, um novo sentimento e o brincar em encontrar a graça em algo desconfortável, proporciona uma vida mais leve e criativa.

Por fim, mas não mesmo importante, a autenticidade perante a vida é aonde queremos chegar. Jacob Levi Moreno, fundador do psicodrama, cria o conceito de espontaneidade, que é a capacidade para se adaptar a novas situações e o ser livre por vontade própria. É o se ouvir, se compreender e agir de acordo consigo mesmo. Quando me refiro a autenticidade, é bem similar ao conceito psicodramático – bem mais complexo do que resumi aqui. Ser autêntico é agir fiel a si de acordo com cada situação. A autenticidade é para chegar ao seu centro e finalmente ter a coragem de se assumir.

E, a partir destas reflexões, surgiu o “mar de afectos”. Admito que na dúvida entre mar de afetos ou afectos, apelei para a numerologia. Porém, o significado continua o mesmo.

Até o momento, esses são meus pilares. Espero ter muitos mais anos de experiência, assim que provavelmente, alguns podem continuar, outros sair e novos pilares podem surgir. Mas, por enquanto, minha formação está orgulhosamente nessas quatro bases. Você já pensou que tipo de profissional é? Quais são suas bases e como as adquiriu? Essa com certeza será uma reflexão que terei de tempos em tempos. 



Marcela Figueiredo Campbell é psicóloga pela PUC-RIO (2018), terapeuta artística e criativa por ISEP, Madrid, Espanha (2020), escritora dos livros Aprendendo em Seis (2014), A garota dos olhos violeta (2018) e Érase una vez en el mundo de las psicosis: las técnicas narrativas ancestrales como herramienta de investigación en personas com psicosis (2021). Esteve na Casa das Palmeiras (2016-2018), Asociación Española de Apoyo a Psicosis, AMAFE (2019-2021), e Asociación de Familiares y Amigos de Enfermos Psíquicos, AFAEP (2019-2020), colaborando com pessoas diagnosticadas com psicose, na Cruz Vermelha Espanhola (2020) atuando com indivíduos com distintas adicções e em Comisión Española de Apoyo al Refugiado, CEAR (2019-2020), com pessoas em situação de imigração e refúgio. Trabalha na clínica individual e terapia de grupo.

Saiba mais sobre a autora: www.mardeafectos.com

Instagram: @mardeafectos

Telegram: @mardeafectos

 

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Comentários

  1. Maravilhosa! Muito orgulho! Psicologa Altamente competente e engajada. Brilha e se realize profissionalmente! 😘

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  2. Obrigada!! <3

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