A ARTETERAPIA E A ARTE: IMPRESSÕES DA ESPANHA#2

Por Marcela Campbell
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Hoje, o artes.LOCUS recebe mais uma vez Marcela Figueiredo Campbell, dando continuidade a série A ARTETERAPIA E A ARTE: IMPRESSÕES DA ESPANHA, onde a autora explora seu encontro com a poesia passeando pelas ruas de Madri.
Boa leitura,
Flavia Hargreaves
Coordenadora do projeto artes.LOCUS


 A ARTETERAPIA E A ARTE: IMPRESSÕES DA ESPANHA#2
por Marcela Campbell

Ojalá no acabase nunca la primera vez de algo.
Quem me dera não acabasse nunca a primeira vez de algo.
ALVARUDO

Madri é uma cidade extremamente ligada a atividades culturais. Em cada esquina existe um pôster sobre algum evento, seja de música, de novas exposições no museu de La reina Sofía ou sobre exposições do outro lado da cidade. Divagando pelas pequenas ruas do centro é possível se deparar com charmosas livrarias e galerias de arte que aquecem o coração criativo, é um charme.

Porém, o que mais me chamou atenção desde que cheguei são as frases pintadas de branco perto do meio fio. Imagina a cena, você vai atravessar a rua e precisa esperar o sinal fechar, então, olha para baixo e se depara com uma frase que te proporciona os mais variados sentimentos e lembranças: é a poesia dominando às ruas de Madri.


Quise poner las cosas en su lugar, pero las cosas hablaban y me confundían.
Quis colocar as coisas em seus lugares, mas as coisas falavam e me confundiam.
EDUARDO REZZANO

Obviamente que não demorou muito para que averiguasse quem estava por trás de tamanha sensibilidade. Foi assim que descobri que as frases que tanto me alegravam, começaram de maneira ilegal. Um grupo de artistas com reconhecimento mundial chamado “boa mistura”, escrevia os famosos trechos no escuro da noite e sem a autorização da prefeitura! No entanto, devido ao bom recebimento do povo sobre as obras, o governo de Madri resolveu converter a situação unindo-se aos artistas. Porém, surgiu outra questão: a prefeitura queria o trabalho apenas no centro da cidade.

Camina descalzo, de pies y de sesera.
Caminhe descalço, com os pés e com a cabeça.
SOL AGUIRRE

Boa Mistura se recusou e afirmou que, ou levaria a arte para toda Madri ou nada. A prefeitura aceitou e assim surgiram às 1.100 frases distribuídas por toda cidade. Cada vez que vejo poema enquanto espero para atravessar a rua, penso em como a arte pode ser para todos e não estar apenas direcionada à parcela da população que vai procurá-las em museus e galerias. Questiono-me sobre as mudanças que podem ocorrer quando levamos à arte as ruas, quando são valorizadas e incluídas no cotidiano. Será que tê-las tão próximas nos despertaria a vontade de frequentar mais centros culturais?

Pensarte es como tomar prestada una melodía.
Pensar em você é como pegar emprestado uma melodia.
FLORKA

Ao ler um livro, sublinho as partes que mais gosto e anoto em um caderno. Minha mente voa ao fantasiar que algum dia estas possam estar nas ruas de Madri ou de alguma cidade do mundo. Nada impede que essas frases que me fizeram pensar possam ter efeito similar em outras pessoas, que saia do meu caderno e ganhe às ruas. É como se Madri se transformasse em um enorme caderno de anotações de frases de livros. Madri vira poesia.

En la casa del vino descansamos del tiempo.
Na casa do vinho, descansamos do tempo.
FRANCISCO CUMPIAN

Não sei se esta é uma reflexão comum para arteterapeutas, mas, como futura terapeuta criativa e artística me pergunto frequentemente o quanto estou buscando e vivendo a arte na minha vida. E este questionamento fica cada vez mais intenso ao me deparar com as frases nas ruas de Madri: o que falta para uma pessoa libertar a arte que existe dentro de si? o que falta para alguém se permitir ser transformado pela sua própria arte?


Leia também: Impressões da Espanha Parte 1 _______________________________________________________________________________________________________

Marcela Figueiredo Campbell, 24 anos, escritora de “Aprendendo em seis” (2014) e “A garota dos olhos violeta” (2018), experimentou com a escrita o poder transformador da arte, levando sua primeira obra a rodas de conversas em escolas sobre a violência escolar. Psicóloga formada pela PUC-Rio, foi estagiária na Casa das Palmeiras (RJ) e depois colaboradora da atividade de Contos de Fada por dois anos. Atualmente cursa o mestrado em Terapias Criativas e Artísticas, na Espanha.
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Comentários

  1. Quanto orgulho dessa menina!

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  2. Parabéns,Ceceu!! Lindo trabalho,muito sucesso!!! 👏👏😍😘

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  3. Que linda reflexão, minha linda!
    Nunca duvidei do seu talento e sensibilidade!!!

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