A ARTETERAPIA E A ARTE: IMPRESSÕES DA ESPANHA # 1

Por Marcela Campbell

Contato: marcela.campbell@globo.com

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Hoje o artes.LOCUS recebe Marcela Figueiredo Campbell, 24 anos, psicóloga recém-formada pela PUC - RJ, que eu tive a oportunidade de acompanhar na Casa das Palmeiras, como responsável pelos ateliês de desenho e pintura, em seu período de estágio e onde seguiu como colaboradora na atividade de Contos de Fada até recentemente. Marcela é uma daquelas pessoas que nos reserva surpresas. Para citar um exemplo, após dois anos de convivência descobri, pelas redes sociais, que estava lançando seu segundo romance: “A garota dos olhos violeta”.

Desde o início de seu estágio na Casa das Palmeiras, em 2016, observei seu grande interesse pela expressão livre praticada nos ateliês e a sua busca por conhecimentos teóricos e técnicos, sempre acompanhada de um mergulho verdadeiro na experimentação e na descoberta dos materiais. Os ventos pareciam soprar na direção da Arteterapia, e os ventos a levaram para Madri (Espanha), onde atualmente cursa o mestrado em Terapias Criativas e Artísticas.

Marcela aceitou nosso convite, que também pode ser visto como mais um desafio, para compartilhar nesse espaço as suas impressões da Espanha, em breves relatos que exploram seus encontros com a arte e as expressões criativas abrindo novos caminhos para uma vida mais rica e saudável.

Boa leitura,

Flavia Hargreaves

Coordenadora do projeto artes.LOCUS

 A ARTETERAPIA E A ARTE: IMPRESSÕES DA ESPANHA

por Marcela Campbell

Palácio Real de Madri, novembro de 2018. Fotografia de Marcela Campbell.

Cheguei a Madri há um mês para fazer meu mestrado em terapias criativas e artísticas, em uma escola de formação de psicologia, com ênfase em arteterapia e teatroterapia. A grade curricular consiste de o primeiro ano ser um “ciclo básico” em que aprendemos sobre psicologia, arte e técnicas. Assim, as aulas são teóricas e práticas.

Apesar das aulas serem muito corridas, os professores sempre nos alimentam com a ideia de que precisamos buscar contextos fora da escola para nos aprofundarmos, ir a workshops, cursos, visitar exposições e buscar nossa própria criação.

Desde o início dava para perceber a preocupação dos professores na nossa formação como profissionais, muitas vezes dizendo que estamos ali para “viver a experiência”, antes de tudo.

Enquanto no Brasil, arteterapia engloba todas as áreas, na Espanha, se refere somente à pintura, escultura, desenho, xilogravura, modelagem e trabalhos artesanais, ou seja, é uma especialidade dentro do que chamam de “terapias artísticas”, que são: dança-movimento-terapia, arteterapia, teatroterapia e musicoterapia. A partir da especialização em duas áreas, constroem-se as terapias criativas e artísticas. Durante o ciclo básico, aprende-se um aparato geral sobre as outras especialidades, porém, no segundo ano do curso existe um aprofundamento na área que se deseja seguir. No meu caso, por exemplo, serão as artes plásticas e o teatro.

O mestrado ensina como a arteterapia atua em diversas abordagens, como: analítica, evolutiva, gestalt, psicanálise e sistêmica.

SOBRE A IMPORTÂNCIA DA ARTE NA ARTETERAPIA

A Arte atravessa todas as aulas, sendo ela a fonte das ferramentas para conduzir o processo terapêutico proposto. Como psicóloga, entendo que a psicologia tem fundamental importância nos estudos, que acrescenta muitíssimo nas intervenções e que, junto à arte, constrói uma forma terapêutica muito mais ampla e menos violenta. Elas se complementam e caminham juntas, mas a arte tem se apresentado nesses primeiros passos do meu estudo como a nossa principal ferramenta de trabalho. Minha busca por uma formação em arteterapia e terapias criativas se baseou na constatação de que a arte é capaz de transformar vidas, e por essa razão é preciso estudá-la a fundo.

Em Madri, nós não precisamos ser artistas profissionais, nem conhecer profundamente todas as de técnicas, afinal, o requisito é ser da área da saúde, das artes ou da educação. Não obstante, precisamos (e eles nos relembram com muita frequência) estar em contato com nossas produções, ou seja, precisamos criar. Pois, se como arteterapeutas acreditamos que o processo ocorre através da arte, é extremamente necessário estar em contato com nossas próprias produções como meio de autoconhecimento e encontro com nossa metodologia de trabalho.

Por tal razão, todos os professores nos recomendam estar atentos ao mundo da arte. Precisamos ir às exposições, olhar, estudar, entender técnicas e, principalmente, no mundo contemporâneo, se perguntar “quem é a pessoa por trás daquela obra?” e pesquisar sobre. Então, nos perguntar a mesma coisa cada vez que terminamos uma produção, para então, olhar para as imagens dos nossos clientes e nos questionar “quem é a pessoa por trás dessa obra?”.  Em Madri, em todas as aulas escutamos a palavra “arte”, pois estamos conscientes de que a arte é, antes de tudo, uma ferramenta transformadora. A arte é acolhedora. É para todos e todas.

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Sobre a autora:

Marcela Figueiredo Campbell, 24 anos, escritora de “Aprendendo em seis” (2014) e “A garota dos olhos violeta” (2018), experimentou com a escrita o poder transformador da arte, levando sua primeira obra a rodas de conversas em escolas sobre a violência escolar. Psicóloga formada pela PUC-Rio, foi estagiária na Casa das Palmeiras (RJ) e depois colaboradora da atividade de Contos de Fada por dois anos. Atualmente cursa o mestrado em Terapias Criativas e Artísticas, na Espanha.

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