O CORPO DA ATUALIDADE NA ARTETERAPIA
Por Isabel Cristina Pinto
Contato: bel.antigin@gmail.com
Coordenadora do projeto artes.LOCUS
Contato: bel.antigin@gmail.com
Hoje o artes.LOCUS recebe Isabel Cristina Pinto, arteterapeuta com formação em Antiginástica ®Thérèse Berthera, compartilhando conosco suas reflexões sobre o corpo na atualidade e as possibilidades que a Arteterapia oferece para promover a reconexão do indivíduo com o próprio corpo, para que tenha mais liberdade e autonomia.
Boa leitura,
Flavia HargreavesCoordenadora do projeto artes.LOCUS
O CORPO DA ATUALIDADE NA ARTETERAPIA
Workshop “O corpo na Arte (terapia)” apresentado no
“Ciclo
Conhecer Cultura Holística”, Rio de Janeiro, agosto de 2017.
“Neste
instante, esteja você onde estiver, há uma casa com o seu nome. Você é o único
proprietário, mas faz tempo que perdeu as chaves. Por isso fica de fora, só
vendo a fachada. Não chega a morar nela. Essa casa, teto que abriga suas mais
recônditas e reprimidas lembranças, é o seu corpo.” Essas palavras de Thérèse
Bertherat, criadora da Antiginástica ®, citadas em seu livro de 1976, O Corpo Tem Suas Razões, mostram-se,
ainda, surpreendentemente atuais e, até, revolucionárias.
Nessa
era de celulares e de redes sociais, o indivíduo encontra-se cada vez mais
“conectado” com o Mundo e cada vez menos, consigo mesmo – espelho de uma
sociedade que busca transformar seus cidadãos em meros consumidores alienados
de seus verdadeiros desejos e anseios. E tal sociedade trata o corpo como um objeto
ou, como diz Thérèse, como um “corpo-carne”, algo a ser domesticado. Em Mulheres que Correm com os Lobos,
Clarissa Pinkola Estés nos diz:
“Está errada a imagem vigente na
nossa cultura do corpo exclusivamente como escultura. O corpo não é de mármore.
Não é essa a sua finalidade. A sua finalidade é a de proteger, conter, apoiar e
atiçar o espírito e a alma em seu interior, a de ser um repositório para as
recordações, a de nos encher de sensações – ou seja, o supremo alimento da
psique (...).” (ESTÉS, 1994)
O
sujeito distanciado de si mesmo é o que vive o corpo “separado” da mente. Mas
essa separação, na verdade, não existe. É Jung quem nos lembra que: “A
distinção entre mente e corpo é uma dicotomia artificial, um ato de
discriminação baseado muito mais na peculiaridade de cognição intelectual que
na natureza das coisas.” E Thérèse Bertherat concorda:
"Nosso corpo somos nós. É nossa
única realidade perceptível. Não se opõe à nossa inteligência, sentimentos,
alma. Ele os inclui e dá-lhes abrigo. Por isso tomar consciência do próprio
corpo é ter acesso ao ser inteiro... pois corpo e espírito, psíquico e físico,
e até força e fraqueza, representam não a dualidade do ser, mas sua
unidade." (BERTHERAT, 1986).
Tratar o corpo como um objeto de adequação social a uma
imagem imposta externamente, desconhecê-lo, leva-nos não somente à frustração,
mas também a um vazio, a uma insatisfação interna, a um perder-se de si mesmo e
a um consequente adoecimento do indivíduo.
É preciso, portanto, ouvir o corpo, senti-lo, respeitá-lo,
liberá-lo. Torná-lo autônomo. Conhecer o próprio corpo é ter autonomia. E esta
tarefa também pertence à Arteterapia. Em Grupos
em Arteterapia, Angela Philippini explica que o fluir e o pulsar naturais
do corpo são comunicações vitais do caminhar da energia psíquica, bloqueados
frequentemente pela vida cotidiana. Assim, o arteterapeuta deve procurar formas
para liberar este fluir e este pulsar, através de, por exemplo, exercícios de
consciência corporal, para a expressão da criatividade do indivíduo. “O
processo criativo, quando ativado de maneira adequada, restaura, resgata,
recupera, reorganiza, redireciona e libera o fluxo de energia psíquica em prol
do bem-estar e da expressividade de cada indivíduo.” E manter-se criativo é
fundamental para a autoestima, a saúde, a vitalidade e a inteireza psíquica
(PHILIPPINI, 2011).
Estar bem consigo mesmo equivale a estar bem com o próprio corpo. Tal como na expressão francesa - être bien dans sa peau (literalmente, estar bem na sua pele, logo, no corpo inteiro) - que significa estar à vontade, sentir-se à vontade consigo mesmo. Esse é o corpo que se quer: aquele no qual estamos confortáveis e com o qual podemos nos relacionar livremente com os outros. Um corpo autônomo, dono de si, da sua pele, que nos leva aonde precisamos ir e para onde nos conduz nosso verdadeiro desejo. E esse é igualmente o corpo que o trabalho de Arteterapia pode ajudar a alcançar.
Estar bem consigo mesmo equivale a estar bem com o próprio corpo. Tal como na expressão francesa - être bien dans sa peau (literalmente, estar bem na sua pele, logo, no corpo inteiro) - que significa estar à vontade, sentir-se à vontade consigo mesmo. Esse é o corpo que se quer: aquele no qual estamos confortáveis e com o qual podemos nos relacionar livremente com os outros. Um corpo autônomo, dono de si, da sua pele, que nos leva aonde precisamos ir e para onde nos conduz nosso verdadeiro desejo. E esse é igualmente o corpo que o trabalho de Arteterapia pode ajudar a alcançar.
VIVÊNCIA CORPO E ARTE
Workshop “O corpo na Arte (terapia)” apresentado no
“Ciclo Conhecer Cultura Holística”, Rio de Janeiro, agosto de 2017.
No dia 25 de agosto passado, como parte do “Ciclo Conhecer
Cultura Holística”, no espaço Riserva Zen, apresentei o workshop “O corpo na
Arte (terapia)”, no qual expus algumas das ideias acima abordadas e propus uma
vivência de corpo e arte. O trabalho corporal teve dois momentos: com os
participantes deitados no chão e depois em pé, num círculo. Deitados, pedi-lhes
que observassem os pontos de apoio do corpo no chão, a respiração, o movimento
das costelas e a localização do diafragma. Com movimentos simples, os músculos
das costelas e do diafragma foram alongados, para uma respiração mais livre e
completa. Depois, em pé, os participantes levaram sua atenção para os seus pés,
o apoio destes no chão, o movimento do corpo a partir dos pés como ponto
central de apoio, imaginando seu corpo como o de uma árvore que balança com o
vento. Esse foi o momento de sensibilização. Após o trabalho corporal,
sentados, os participantes fizeram uma breve imaginação de seu corpo-árvore
para, enfim, desenhar esta árvore, com materiais de colorir (giz de cera, lápis
de cor, lápis comum, caneta, canetinha hidrocor, cola glitter colorida) em
papel A3 ou A4. Depois, falaram sobre sua árvore e sua vivência. Alguns
relataram surpresa com os movimentos novos e inusitados que haviam sido pedidos
e como tinha sido agradável mexer no corpo desta maneira diferente. Disseram
que haviam conseguido respirar plenamente, como nunca antes. Outros falaram da
sensação de equilíbrio e movimento sentidos no trabalho corporal. Outros
remeteram sua árvore à infância e suas lembranças peculiares. Muitos perceberam
pontos em comum da árvore desenhada com o seu corpo, sua vida no momento atual
e/ou com o trabalho corporal que haviam feito. Todas as árvores tinham vida,
movimento, eixo, equilíbrio e refletiam um corpo que havia podido experimentar
essas e outras sensações durante a vivência corporal e artística proposta.
Workshop “O corpo na Arte (terapia)” apresentado no
“Ciclo Conhecer Cultura Holística”, Rio de Janeiro, agosto
de 2017.
Trabalhar o corpo e propor uma atividade artística logo em
seguida amplia as possibilidades de expressão do indivíduo: sensações, dores,
lembranças, sentimentos que surgem no trabalho com o corpo ganham espaço para
se manifestar na expressão artística. E a proposta de liberação da respiração e
de músculos que frequentemente estão contraídos ou mesmo retraídos permite que
conteúdos inconscientes venham à tona e tenham oportunidade para se concretizar
através da arte, para que, assim, possam ser trabalhados terapeuticamente,
levando o indivíduo a um maior autoconhecimento.
Sobre a autora:
Isabel Cristina Pinto é
arteterapeuta (Curso de Arteterapia
Danielle Bittencourt); formada em Antiginástica ®Thérèse Bertherat , grupo BR1;
formada em Jornalismo (ECO – UFRJ); pós-graduada em Língua Portuguesa (UERJ) e
em Língua Inglesa (PUC/RJ); possui Complementação Pedagógica em Língua Inglesa
(PUC/RJ); professora de Inglês e Francês e graduanda em Psicologia (Universidade
Veiga de Almeida/Barra da Tijuca).
Referências
Bibliográficas
BERTHERAT,
Thérèse .O Corpo Tem Suas Razões –
Antiginástica e Consciência de Si. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
ESTÉS,
Clarissa Pinkola. Mulheres que Correm
com os Lobos – Mitos e Histórias do Arquétipo da Mulher Selvagem. Rio de
Janeiro: Rocco, 1994.
JUNG,
C. G. Fundamentos da Psicologia
Analítica , Volume XII. Rio de Janeiro: Vozes, 2004
PHILIPPINI,
Angela. Grupos em Arteterapia –
Redes para Colorir Vidas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
________________________________________________________________________________
Caso tenha dificuldade em publicar seu comentário neste blog você poderá encaminhá-lo para o email:atelie.locus@gmail.com que ele será publicado. Obrigada.
Um trabalho com um olhar consciente e sábio. Meus parabéns! Muito orgulho.
ResponderExcluirExcelente artigo! Uma visão holística sobre um tema tão em voga em nosso tempo, onde o corpo acaba se tornando apenas um marketing pessoal, sem levar em conta a real importância da relação corpo/ espírito.
ResponderExcluir